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Barrabás - o Barba Azul

Barrabás - o Barba Azul

Pinotes na Feira da Bagageira

O Buraco Negro da Política Local

Barba Azul, 06.05.25

 

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Pinotes Batista em Alcácer do Sal, na Feira da Bagageira, ou como alguém, se sente um verdadeiro estadista com um microfone emprestado pela junta.

Na pitoresca Alcácer do Sal, onde as cegonhas sobrevoam os telhados e os discursos políticos ecoam com a mesma leveza, André Pinotes Batista, o novo timoneiro da Federação Distrital de Setúbal do PS, brindou-nos com uma oratória que, se não fosse tão previsível, seria quase inspiradora.

Senhoras e senhores, começa ele, "povo de (Alcácer do Sal)", ou será Cascalheira de Baixo? Talvez Traseiras do Telhado? Não importa para o caso, porque o texto foi claramente concebido com o botão “Localidade (inserir aqui)” pronto a ser substituído pelo nome do aglomerado populacional em causa. A fórmula, há muito conhecida pela classe política, é infalível.

O importante é que André Pinotes Batista apareceu, representou e ninguém ficou indiferente, ou melhor, todos ficaram exatamente como estavam antes, mas com um ligeiro zumbido nos ouvidos causado pelo eco do seu próprio ego.

Todos, à excepção do proprietário da viatura que, enquanto decorria o bota palavra, enterrava o eixo do carro no buraco negro infraestrutural que ameaça fazer derrocar o poder autárquico da Companhia Pinotes, no Barreiro.

Pinotes, esse monumento vivo ao design político, é a mais recente exportação dos Casquilhos para o universo das frases feitas. Saiu da sua zona de conforto, que é, curiosamente, todo o território nacional onde exista um palanque, uma câmara ligada, ou um cartaz com o logo do PS, para entregar à população de Alcácer um discurso com mais variedade de produtos, do que um panfleto do Lidl.

Falou dos desafios. Claro que falou, não há político de PowerPoint, que se preze, que não fale dos desafios, mas fê-lo com a intensidade de quem comenta um fora-de-jogo na CMTV às três da manhã, com gráficos de posse de bola e a certeza absoluta de que, se ele mandasse, o país já era campeão europeu da “coesão territorial sustentável, com pegada digital e empatia intermunicipal”.

Enumerou dificuldades como quem recita a tabela periódica sem saber que “berílio” não é um mineral, mas o nome da cabeleireira da prima de um militante de Setúbal.

As palavras voaram, “transformação”, “proximidade”, “digitalização”, “juventude”, “resiliência”, “nova energia”, “compromisso”. Parece um plano estratégico, mas é só ruído poético com cheiro de tinta fresca em cartaz de campanha.

E lá estava ele, no seu palco moral portátil, com ar de quem vende Tupperwares emocionais e seguros de saúde para a alma socialista, embalado naquele tom monocórdico de político jovem, que já decorou todos os truques da velha guarda. O truque é parecer visionário, mas só até ao final do mandato, depois logo se vê.

O mais fascinante, a convicção como André Pinotes argumenta e fala, como quem acredita mesmo que está a liderar uma cruzada, que vai resolver a desertificação do interior com “Estados Gerais Digitais” e que basta sorrir para atrair investimento direto estrangeiro. Como se o destino de Alcácer do Sal se decidisse numa reunião de departamento de marketing, ali no café Central do Lavradio.

Tudo isto seria divertido se não fosse trágico, porque enquanto ele despeja clichés, com a confiança de um youtuber motivacional, quem o ouve tem contas por pagar, filhos sem médico de família e transportes que chegam com menos frequência que o bom senso ao discurso dele. Mas o que importa é que o cenário é bonito e o design resulta. O “branding” está feito.

Pinotes Batista não é um político, é um vendedor de sonhos em leasing, com stand montado na Feira da Bagageira do Barreiro. E Alcácer do Sal foi só mais uma paragem na tournée nacional do “Eu, Eu e o Partido”. Amanhã será em Vendas Novas, depois, talvez em Porto Covo, na Moita ou Sarilhos-Pequenos, bastando para que resulte, trocar o nome no discurso.

Porque os problemas são locais, mas o paleio é sempre global.

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Os dois videntes do PS - Crónicas do Carreirismo

Pedro Delgado Alves & André Pinotes Batista, a Arte de Falar Sem Dizer Nada

Barba Azul, 15.04.25

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Pedro Delgado Alves e André Pinotes Batista são, cada um à sua maneira, filhos predilectos da máquina do Partido Socialista. Enquanto um parece ter saído diretamente de um manual de Direito Constitucional, comentado à luz da jurisprudência interna do Rato, o outro nasceu para declamar discursos com a intensidade de quem acredita que está no Coliseu de Roma, ou a relatar um jogo de futebol, na CMTV.

Pedro é o político de gabinete por excelência, um académico encartado que parece ter sido moldado para justificar qualquer trapalhada do PS com um sorriso tecnocrático e uma citação de rodapé. Ocupa a sua cadeira no Parlamento com a compostura de quem está sempre prestes a corrigir um aluno mal comportado e, de facto, é um mestre em corrigir o eleitorado sempre que este teima em não perceber as nuances do socialismo de conveniência.

Pedro Delgado Alves é o epítome da modéstia involuntária, aquele tipo raro de político que consegue transitar entre o Parlamento e os estúdios de televisão, com a graciosidade de quem nasceu para nos explicar o óbvio. Uma estrela cintilante do Partido Socialista, que brilha, não por iluminar o caminho, mas por reflectir intensamente as luzes dos holofotes.

André Pinotes Batista é, antes de mais, um fenómeno de entusiasmo que encanta e surpreende. Um entusiasmo quase comovente, daqueles que não se vêem desde os tempos em que os deputados ainda acreditavam que tinham algo para dizer. No caso de Pinotes, o problema não é a ausência de convicção, é o excesso de pose.

Pinotes não discursa, interpreta. Cada intervenção sua na Assembleia da República parece ensaiada ao espelho, com entoações milimetricamente calibradas e pausas dramáticas estrategicamente posicionadas, como se estivesse permanentemente em audição para um telefilme sobre o 25 de Abril. É a política como monólogo de palco e, como todo o monólogo, raramente admite contraditório.

Surgido nas fileiras do Partido Socialista como a personificação da nova geração, uma expressão que, no PS, significa mais do mesmo, mas com gel no cabelo, Pinotes rapidamente percebeu que a política moderna recompensa a aparência de conteúdo mais do que o conteúdo em si. E assim moldou a sua carreira, um deputado que nunca perdeu uma oportunidade para aparecer, mesmo que não tenha absolutamente nada de novo para dizer.

Mas onde verdadeiramente brilha é nos estúdios televisivos, onde a sua retórica inflamada pode expandir-se livre das amarras da realidade legislativa. É nesses espaços que André se transcende, transformando banalidades em epopeia, críticas em ataques pessoais e hesitações do partido em gestos estratégicos. Com ele, qualquer derrapagem ética pode ser embalada como uma falha de comunicação.


E se for necessário atacar a oposição? Faz-se, mas sempre com aquele tom magnânimo de quem, se não fosse socialista, seria provavelmente padre.

Pinotes, com aquele nome que parece inventado por um guionista da RTP Memória, representa o outro lado da moeda, o homem de causas, o filho do operariado que se transformou em tribuno do povo, com um ar sempre pronto a protagonizar um filme autobiográfico na RTP1 sobre a geração da Jota.

É a voz emocional do PS, enquanto Pedro é a voz nasalmente racional, mas ambos unidos por uma fidelidade canina ao partido, mesmo quando este se contorce em malabarismos éticos que fariam corar um deputado grego.

Curiosamente, ambos parecem acreditar que o comentário televisivo é um desígnio patriótico. Pedro, com o seu ar de professor, explica pacientemente porque os outros partidos estão errados, sobretudo se forem de esquerda, à sua esquerda, contrasta com Pinotes, sempre inflamado, como se cada painel fosse a última trincheira da social-democracia softcore, ou a não marcação de um penalti, a favor do seu querido Leão.

Enquanto Pedro Delgado Alves sobe na vida, pelas escadas encaracoladas do juridiquês, Pinotes vai de elevador emocional, acionado por frases sonantes e causas que soam bem no Twitter. Um recita pareceres, o outro escreve epílogos, mas ambos servem o mesmo altar, o culto da longevidade política à custa da convicção, ou da sua aparência.

Pedro Delgado Alves é daquele género raro que consegue estar presente em todos os fóruns mediáticos sem jamais arriscar uma ideia que o possam seguir no Google. Pinotes, pelo contrário, acredita que a emoção compensa a falta de conteúdo, e, comove-se, se necessário, com o som da própria voz.

No fundo, são duas faces da mesma moeda socialista, uma polida pela academia, outra esculpida pela dialética retórica, em que se mostram especialistas entre os melhores. Complementares, inseparáveis e igualmente preparados para, no futuro, escreverem as memórias de uma carreira onde, acima de tudo, nunca faltaram à chamada, quando era preciso dizer aquilo que convinha.

Se Pedro Delgado Alves é o tecnocrata que adormece com leis, André Pinotes Batista é o agitador de superfície que se embriaga com a própria voz. Juntos, provam que o PS continua a produzir talento, desde que o talento não atrapalhe o guião.

E o país, claro, agradece-lhes com a mesma indiferença que se dedica aos móveis pesados, que estão lá, são úteis, mas ninguém sabe bem porquê.

Stairway to heaven

Barba Azul, 11.04.25

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Crónica Barreirense:  Lambe-botas carreirista em Pleno Esforço Redacional

Curvo-me hoje, perante os Deuses do Olimpo, para prestar uma singela, mas profundamente encenada homenagem, à mais recente crónica do nosso ilustre Deputado, Comentador, Cronista..... eu sei lá mais do quê, André Pinotes Batista, publicado no prestigiado jornal Record, esse órgão de referência de reflexão político-futebolística nacional.

Trata-se de um texto que me comoveu. Não pela prosa que, admito, escorrega com a elegância de um médio centro em relvado molhado, mas pela devoção quase bíblica ao Senhor Aurélio Pereira, o patriarca dos juniores, o Moisés da formação leonina, o São Vicente de Paulo da Academia de Alcochete.

Que exemplo de modéstia o do autor, que nos diz não ser dado a idolatrias, e depois escreve um texto com mais incenso que a Capela Sistina em dia de conclave!

Por entre as páginas do Record, aquele vetusto templo do jornalismo desportivo onde se mistura o sagrado do pontapé com o profano do elogio fácil, eis que André Pinotes Batista, deputado em folga e escriba de ocasião, nos brinda com uma crónica sobre Aurélio Pereira. E que crónica! Um verdadeiro tratado de veneração, não ao futebol, nem ao mérito, mas ao beija-mão institucional.

É com a delicadeza de um seminarista perante a hóstia consagrada que André Pinotes invoca o nome de Aurélio Pereira, como se estivéssemos diante de um misto de D. Afonso Henriques com Alex Ferguson, numa aura de santidade que faria corar os próprios evangelistas. O tom é messiânico, redentor, quase litúrgico, nas suas palavras, Aurélio Pereira não é um homem, é uma epifania de chuteiras.

Claro que André Pinotes, num exercício de hipocrisia subentendida, finge modéstia ao reconhecer que não é dado a idolatrias. Pudera! O que se segue é precisamente isso, uma ladainha aduladora que faria qualquer assessor de comunicação corar de inveja. A cada parágrafo, um ajoelhar metafórico, a cada frase uma genuflexão simbólica, perante o altar de Alvalade.

O mais divertido e caricato, convenhamos, é a tentativa de revestir a crónica de alguma profundidade sociológica, como se falar de um olheiro do Sporting fosse o mesmo que abordar a questão da habitação ou da crise do sistema de saúde. Fala-se de "serviço público", de “legado nacional”, de “missão civilizacional”, como se Aurélio Pereira, tivesse fundado os CTT ou redigido os Lusíadas entre dois treinos dos juvenis.

E, claro, tudo isto sem nunca nomear as óbvias conveniências partidárias e clubísticas, que rodeiam o articulista. Porque no fundo, o que André Pinotes escreve não é uma homenagem, é uma candidatura, uma tentativa de marcar lugar na galeria dos bons rapazes do sistema. Um "EU ESTOU AQUI", vejam como eu sei dizer as palavras certas sobre os homens certos. Aurélio Pereira, infelizmente neste jogo, é apenas o pretexto e não a razão.

Mas sejamos justos. O texto não é desprovido de talento, há frases bem torneadas, construções elegantes, até um ou outro momento de ritmo literário. Mas é talento posto ao serviço da bajulação, o que, convenhamos, é como usar um Stradivarius para tocar os parabéns ao presidente da câmara.

Devo confessar, fiquei impressionado com a subtileza política. Entre um elogio e outro, escondem-se múltiplas candidaturas, por exemplo, a uma secretaria de Estado do Desporto, à presidência da Liga, ou, quem sabe, ao título honorário de cardeal encarnado infiltrado em Alvalade.

No final, resta-nos a lição, no Portugal do faz-de-conta, onde o futebol serve de escudo a toda a espécie de misérias, onde até os cronistas se transformam em treinadores de bancada com pretensões a historiadores. E Aurélio Pereira, esse, entretanto falecido, alheio a tanta santificação, provavelmente com mais vergonha do texto que lhe dedicaram do que orgulho.

Bravo, André Pinotes Batista, sabes e bem, usar o momento, estar no sítio certo e capitalizar como ninguém a existência alheia.
A tua crónica é um perfeito monumento, à tua vaidade, e ao talento desperdiçado ao serviço do culto da banalidade.

Já agora..., para que continues a brilhar, subindo a escada do reconhecimento marcando presença no tapete vermelho, que entre o próximo santo!