Sua Majestade Rui Braga
Rui Braga, vice-presidente da Câmara Municipal do Barreiro, é, sem dúvida, o exemplo perfeito de como a política pode ser conduzida com uma habilidade rara, de mostrar preocupação com as instituições, enquanto se mantém distante das responsabilidades.
Destaca-se pela sua capacidade de aparecer em eventos, como a estrela da noite, sempre com um sorriso largo e um discurso que ressoa com promessas de apoio às instituições e ao bem-estar da comunidade, como se a sua presença bastasse e fosse a chave para resolver todos os problemas locais.
A sua actuação no Barreiro, por exemplo, pautou-se quase sempre, como se de um espectáculo cuidadosamente ensaiado se tratasse. Quando a crise da reabilitação do Moinho Grande e da caldeira adjacente foi levantada, Rui Braga rapidamente saiu em defesa de decisões controversas, ignorando, é claro, as vozes daqueles que realmente entendem do assunto, como a Direção-Geral do Património Cultural.
Se fosse um concurso de declarações, sempre imperturbável, ele certamente sairia vitorioso, com a sua habilidade de desqualificar especialistas com a mesma facilidade com que alega estar a fazer o melhor pelo Barreiro.
Quando as questões de resíduos começaram a ser noticia no município e a causar problemas, em vez de assumir que talvez o novo modelo não fosse perfeito, Rui Braga limitou-se a admitir, timidamente, que afinal de contas, nem tudo estria bem, como se isso fosse um grande gesto de humildade.
E o melhor? Fez tudo isso enquanto se envolvia em questões muito mais glamorosas, como apoiar o Grupo Desportivo Fabril, garantindo que as instalações desportivas fossem preservadas, mas sempre se esquivando de lidar directamente com os problemas mais complicados, que tal processo acarretou para o Clube e para o Concelho.
A sua actuação no Barreiro sempre foi marcada por um curioso paradoxo, o de um político que se apresenta como um salvador, mas cujas ações, quando observadas de perto, pouco resultam em mudanças concretas. Mas claro, é muito mais fácil lançar luz sobre a sua imagem em grandes eventos do que enfrentar as verdadeiras complicações do dia-a-dia.
Rui Braga, com a sua postura impecavelmente alinhada, tem um talento singular para transformar qualquer crítica ou divergência num puro espectáculo de arrogância camuflada de confiança. Quando confrontado com as contradições ou falhas nas suas decisões, a sua reação imediata é desqualificar qualquer contradição com uma habilidade que roça o desdém.
Em vez de procurar um diálogo construtivo, prefere seguir a linha de um político que jamais aceita os seus erros, criando um distanciamento claro entre ele e aqueles que ousam apontar-lhe falhas. Se alguém se atrever a questionar as suas ações ou defender uma opinião divergente, Rui Braga rapidamente se transforma num mestre da retórica defensiva.
A sua resposta é sempre marcada por uma postura de superioridade, como se as suas escolhas estivessem além da compreensão dos simples mortais. Não há espaço para a reflexão ou autocrítica, apenas uma certeza imperturbável de que ele está sempre certo e que, se algo não saiu como esperado, é por culpa de factores externos ou mal entendidos alheios.
Quando alguém menciona as suas decisões polémicas, como o mal-estar gerado pela nomeação de Rui Laranjeira ou a gestão duvidosa de alguns projectos urbanísticos, Rui Braga responde com um tom que mistura desprezo e condescendência. Em vez de reflectir sobre as críticas, ou tentar esclarecer pontos que merecem uma análise mais profunda, escuda-se na sua experiência e no bom senso que, no seu ponto de vista, são inquestionáveis.
A postura arrogante e o afastamento da realidade tornam-se ainda mais evidentes, como se, para ele, a simples condição de ser vice-presidente fosse garantia de que tudo que faz deve ser aceite sem interrogações. Se a sua postura não fosse suficiente para afastar aqueles que discordam, o seu talento em desqualificar oponentes torna qualquer debate irrelevante.
A falta de humildade diante de erros e a constante afirmação de que está tudo bem, mesmo quando claramente não está, só reforçam a sua imagem de político que, em vez de trabalhar para unir e melhorar, prefere a ilusão de que é a única voz autorizada a falar. Afinal, para ele, criticarem as suas ações, é mais uma forma de incompreensão de um público que, aparentemente, jamais poderá entender a sua grandeza.