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Barrabás - o Barba Azul

Barrabás - o Barba Azul

Os dois videntes do PS - Crónicas do Carreirismo

Pedro Delgado Alves & André Pinotes Batista, a Arte de Falar Sem Dizer Nada

Barba Azul, 15.04.25

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Pedro Delgado Alves e André Pinotes Batista são, cada um à sua maneira, filhos predilectos da máquina do Partido Socialista. Enquanto um parece ter saído diretamente de um manual de Direito Constitucional, comentado à luz da jurisprudência interna do Rato, o outro nasceu para declamar discursos com a intensidade de quem acredita que está no Coliseu de Roma, ou a relatar um jogo de futebol, na CMTV.

Pedro é o político de gabinete por excelência, um académico encartado que parece ter sido moldado para justificar qualquer trapalhada do PS com um sorriso tecnocrático e uma citação de rodapé. Ocupa a sua cadeira no Parlamento com a compostura de quem está sempre prestes a corrigir um aluno mal comportado e, de facto, é um mestre em corrigir o eleitorado sempre que este teima em não perceber as nuances do socialismo de conveniência.

Pedro Delgado Alves é o epítome da modéstia involuntária, aquele tipo raro de político que consegue transitar entre o Parlamento e os estúdios de televisão, com a graciosidade de quem nasceu para nos explicar o óbvio. Uma estrela cintilante do Partido Socialista, que brilha, não por iluminar o caminho, mas por reflectir intensamente as luzes dos holofotes.

André Pinotes Batista é, antes de mais, um fenómeno de entusiasmo que encanta e surpreende. Um entusiasmo quase comovente, daqueles que não se vêem desde os tempos em que os deputados ainda acreditavam que tinham algo para dizer. No caso de Pinotes, o problema não é a ausência de convicção, é o excesso de pose.

Pinotes não discursa, interpreta. Cada intervenção sua na Assembleia da República parece ensaiada ao espelho, com entoações milimetricamente calibradas e pausas dramáticas estrategicamente posicionadas, como se estivesse permanentemente em audição para um telefilme sobre o 25 de Abril. É a política como monólogo de palco e, como todo o monólogo, raramente admite contraditório.

Surgido nas fileiras do Partido Socialista como a personificação da nova geração, uma expressão que, no PS, significa mais do mesmo, mas com gel no cabelo, Pinotes rapidamente percebeu que a política moderna recompensa a aparência de conteúdo mais do que o conteúdo em si. E assim moldou a sua carreira, um deputado que nunca perdeu uma oportunidade para aparecer, mesmo que não tenha absolutamente nada de novo para dizer.

Mas onde verdadeiramente brilha é nos estúdios televisivos, onde a sua retórica inflamada pode expandir-se livre das amarras da realidade legislativa. É nesses espaços que André se transcende, transformando banalidades em epopeia, críticas em ataques pessoais e hesitações do partido em gestos estratégicos. Com ele, qualquer derrapagem ética pode ser embalada como uma falha de comunicação.


E se for necessário atacar a oposição? Faz-se, mas sempre com aquele tom magnânimo de quem, se não fosse socialista, seria provavelmente padre.

Pinotes, com aquele nome que parece inventado por um guionista da RTP Memória, representa o outro lado da moeda, o homem de causas, o filho do operariado que se transformou em tribuno do povo, com um ar sempre pronto a protagonizar um filme autobiográfico na RTP1 sobre a geração da Jota.

É a voz emocional do PS, enquanto Pedro é a voz nasalmente racional, mas ambos unidos por uma fidelidade canina ao partido, mesmo quando este se contorce em malabarismos éticos que fariam corar um deputado grego.

Curiosamente, ambos parecem acreditar que o comentário televisivo é um desígnio patriótico. Pedro, com o seu ar de professor, explica pacientemente porque os outros partidos estão errados, sobretudo se forem de esquerda, à sua esquerda, contrasta com Pinotes, sempre inflamado, como se cada painel fosse a última trincheira da social-democracia softcore, ou a não marcação de um penalti, a favor do seu querido Leão.

Enquanto Pedro Delgado Alves sobe na vida, pelas escadas encaracoladas do juridiquês, Pinotes vai de elevador emocional, acionado por frases sonantes e causas que soam bem no Twitter. Um recita pareceres, o outro escreve epílogos, mas ambos servem o mesmo altar, o culto da longevidade política à custa da convicção, ou da sua aparência.

Pedro Delgado Alves é daquele género raro que consegue estar presente em todos os fóruns mediáticos sem jamais arriscar uma ideia que o possam seguir no Google. Pinotes, pelo contrário, acredita que a emoção compensa a falta de conteúdo, e, comove-se, se necessário, com o som da própria voz.

No fundo, são duas faces da mesma moeda socialista, uma polida pela academia, outra esculpida pela dialética retórica, em que se mostram especialistas entre os melhores. Complementares, inseparáveis e igualmente preparados para, no futuro, escreverem as memórias de uma carreira onde, acima de tudo, nunca faltaram à chamada, quando era preciso dizer aquilo que convinha.

Se Pedro Delgado Alves é o tecnocrata que adormece com leis, André Pinotes Batista é o agitador de superfície que se embriaga com a própria voz. Juntos, provam que o PS continua a produzir talento, desde que o talento não atrapalhe o guião.

E o país, claro, agradece-lhes com a mesma indiferença que se dedica aos móveis pesados, que estão lá, são úteis, mas ninguém sabe bem porquê.

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