Não é roubo, é inovação financeira!
Edição Classe Executiva
Não é roubo, é inovação financeira!
Senhoras e senhores, tragam o champanhe e os recibos de depósitos a prazo, que Maria Luís Albuquerque, aquela que um dia disse que não havia problema nenhum em vender swaps como quem vende raspadinhas, voltou em grande!
Agora, com um título europeu que parece uma password gerada automaticamente por um sistema em stress: Comissária da Estabilidade Financeira, Serviços Financeiros e Mercados de Capitais, sim, tudo isto para nos lembrar que estabilidade, nos dias que correm, é quando o nosso dinheiro desaparece em câmera lenta com música clássica ao fundo.
A brilhante ideia da semana? Usar 10 biliões de euros de poupanças dos cidadãos, os tais remediados que ainda conseguem juntar umas moedas no fim do mês, entre um IVA e outro, para investir nos grandes sonhos de Bruxelas.
Inovação digital, leia-se, startups que falem de blockchain e acabem em falência, transição climática, plantar painéis solares em cima de pobres, e, claro, defesa, traduzido do eurocratês, tanques e mísseis com selo ecológico.
Mas atenção! Ninguém está a obrigar ninguém, longe disso, isto vai ser tudo "voluntário", tal como foi voluntário aquele senhor que investiu no BES porque o gerente do banco lhe disse, com um sorriso e um powerpoint, que aquilo era mais seguro do que a vida eterna.
Agora só lhe resta a vida, e mesmo essa com restrições.
O Eurofi, esse antro de brainstorming capitalista onde se reúne tudo o que é CEO, banqueiro e lobista de profissão, aplaudiu. Claro que sim, aplaudiram Maria Luís, com ar de quem acabou de descobrir a cura para a pobreza, por outras palavras, transformar os pobres em investidores falidos, propôs canalizar o dinheiro dos pobres para as mãos dos ricos, mas com "literacia financeira"!
E isto, porque o problema, meus caros, é que nós não percebemos nada disto, somos todos analfabetos financeiros, e até temos o desplante, de pensar que o nosso dinheiro no banco, é nosso! Que ingénuos.
E o melhor, a palavra “prudência” foi dita seis vezes no discurso, porque ao repetir muitas vezes "prudência", talvez o mercado acredite e os velhotes não se assustem.
Afinal, prudente também era o BES, prudente era o BPN, prudente era a ministra das Finanças que garantiu que não haveria mais problemas com a banca, e no fim, olhem onde estamos.
E agora, para o grande final, as reformas complementares, o novo eufemismo para dizer "esperem sentados porque a reforma base não chega nem para a conta da EDP".
A proposta é inscrever-nos automaticamente nesses esquemas, automático, mas voluntário, claro, tal como aqueles "upgrades" do Windows, que instalam tudo enquanto estás a beber café, ou a palitar os dentes e, de repente, perdeste a casa, mas ganhaste uma carteira digital.
E quem não quiser investir em ações de empresas de armamento? Problema seu. Afinal, o seu direito de não financiar bombas deve sempre ceder ao direito inalienável da União Europeia de alimentar os interesses do consórcio da guerra.
A escolha é sua, ou mete o seu dinheiro em armas, ou vê o seu dinheiro a desaparecer de forma civilizada, pelas mãos dos gestores prudentes.
Portanto, sim, as pensões e os depósitos estão em perigo, mas com elegância, com apresentações em magníficas apresentações, com comissários que falam de resiliência financeira.
E se perder tudo, console-se com uma certeza, foi tudo “voluntário”.
Boa sorte, Europa. Vais precisar.