Frederico & Rui - Crónicas Barreirenses
Crónica de um Dueto que Confundiu o Barreiro com um Palco Privado
Frederico & Rui, a Grande Farsa Barreirense
Frederico, nome sagrado nos corredores do poder municipal, inspiração para os juniores ambiciosos e, claro, um exemplo vivo de como a política local pode ser um teatro de vaidades, onde o enredo principal é sempre, como fingir que se faz muito, fazendo o mínimo, mas sempre com o máximo de pose.
Frederico, o presidente de todos os barreirenses, desde que não façam muitas perguntas, surgiu como o rosto da renovação, prometendo uma gestão moderna, transparente e, claro, centrada nas pessoas. Frases tão gastas como os passeios do Lavradio, mas ditas com um ar tão solene, que quase nos esquecemos que as ruas continuam esburacadas e os projectos estruturantes, afinal, ainda permanecem esquecidos no PowerPoint.
Frederico Rosa, esse príncipe encantado das rotundas e dos cafés no centro histórico, é uma daquelas figuras que parece ter nascido para estar em cargos públicos, não por vocação, mas por falta de alternativa. A sua vida profissional pré-Câmara é um território mais árido que a zona ribeirinha em agosto, cargos nebulosos, funções discretas, impacto irrelevante. Mas bastou-lhe o cartão, a aura de jovem promissor, no partido, para subir ao trono municipal e instalar-se como se tivesse recebido um chamamento divino. E a partir daí, o Barreiro passou a ser menos uma cidade e mais um projeto de branding pessoal.
Se o Barreiro fosse uma peça de teatro, Frederico Rosa seria o protagonista narcisista, Rui Braga, o fiel escudeiro que diz sempre sim, senhor presidente, e os assessores, bom... Os assessores seriam o coro gregoriano, repetindo em uníssono cada mantra saído da sala oval do executivo: estamos a transformar o concelho, projectos estruturantes, comunicação é fundamental; tudo isto enquanto o município se afunda num lodo de anúncios sem consequências e rotinas de Photoshop institucional.
Desde que se sentou na cadeira de presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Frederico tem desempenhado o seu papel com uma entrega digna de um óscar em Hollywood, talvez não pelo conteúdo, mas certamente pelo drama e comédia. Quem o vê a discursar sobre o futuro do Barreiro, quase se convence que estamos perante um estadista de envergadura europeia, quando na verdade assistimos a uma performance cuidadosamente encenada de frases feitas, de uma bregeirisse confrangedora, cheio de promessas recicladas e uma retórica que brilha mais do que qualquer obra acabada.
Durante o seu reinado, nos últimos oito anos, o Barreiro ganhou, o quê? Mesmo? Rotundas mais filosóficas que funcionais, projectos anunciados com fanfarra que acabam em power-points abandonados ou esquecidos, e uma mobilidade urbana tão eficiente quanto um comboio da Fertagus ao domingo à noite. Mas quem somos nós para julgar, não é? Afinal, Frederico não governa o Barreiro, ele interpreta o Barreiro, com a mesma convicção de um actor secundário, que acredita ser o protagonista principal.
E como esquecer a sua paixão por projectos de coesão social e sustentabilidade, tão frequentemente repetidos, que já parecem mantras de auto ajuda, talvez porque a cidade precisa mais de fé do que de planos concretos. Para cada buraco na estrada, uma conferência de imprensa, para cada problema estrutural, uma selfie ou vídeo em obra, com capacete, para cada crítica, um post indignado nas redes sociais, como se o verdadeiro problema fosse a ousadia do povo em esperar resultados.
Frederico Rosa é, portanto, o gestor perfeito para uma era de aparências sobre a substância, onde a eficiência se mede no número de curtes facebookianas e a transparência termina onde começa o guião da assessoria. Um símbolo de como a mediocridade pode ser suavemente embalada em discursos emotivos e jargões progressistas em detrimento da meritocracia.
Ao seu lado, sempre presente, Rui Braga, o homem dos dossiês, esse camaleão técnico-político, desliza entre cargos como quem troca de camisa, sempre com aquele ar de técnico independente, enquanto cumpre fielmente o guião político do chefe. Um especialista em urbanismo e desenvolvimento económico que, curiosamente, tem deixado o Barreiro a meio caminho de tudo, meio urbanizado, meio planeado, meio transparente.
Rui, o homem que nunca se atrasa para uma inauguração, sobretudo das que ainda não abriram, e que domina como ninguém a arte de parecer competente enquanto sorri para a câmara com o ar de quem acabou de resolver o problema da habitação, mas não resolveu.
A dupla, funciona como um relógio daqueles que não marcam as horas certas, mas tocam sempre na mesma tecla, estamos a transformar o Barreiro, pois!!!. Até um relógio parado, acerta uma vez por dia. Aí, sai festa e conferência de imprensa. Transformar em quê, ainda ninguém sabe, porque em cada esquina, uma promessa, em cada comunicado, uma miragem. Investidores fantasmas, que ninguém conhece, planos estratégicos com datas de validade mais curtas que um iogurte, e um discurso onde as palavras sustentável e resiliência aparecem mais do que os resultados.
Mas não se enganem, porque o Frederico e o Rui trabalham arduamente, não na resolução de problemas, claro, mas na criação de narrativas. O Barreiro não é para eles uma cidade, é um cenário, e o executivo camarário, uma produtora de ficção política. O orçamento não passa de um guião de cinema e o PDM, uma obra de ficção científica.
Juntos, construíram um modelo de gestão baseado no princípio da visibilidade sem responsabilidade. Tudo é anunciado com pompa, mas pouco é concluído com substância. As críticas, são constantemente ignoradas ou teatralmente carpidas, em sessões de câmara ou assembleias, onde o drama ultrapassa frequentemente a razão, parecendo mais uma trágico-comédia.
E o Barreiro, terra de operários, de lutas históricas, de identidade forte, passou os últimos anos a viver um drama político digno das melhores telenovelas venezuelanas, protagonizado por dois nomes que ecoam pelos corredores da Câmara Municipal com o dramatismo de personagens shakespearianos, Frederico Rosa, o edil supremo, e Rui Braga, o seu inabalável homem de mão, o braço direito, o alter ego administrativo. Um dueto afinado na arte de parecer, fingir, justificar, anunciar e adiar.
E o povo do Barreiro? O povo assiste, descrente, a este teatro de vaidades, onde o protagonismo suplanta o serviço público, onde os vícios do passado são apenas reembalados com uma nova capa gráfica e sublimadas num bom plano de comunicação.
Enfim, Frederico e Rui, a dupla dinâmica que prometeu uma revolução, apenas se preocuparam em preparar uma cuidada e glamorosa encenação. O Barreiro merecia gestores, mas no fim apenas recebeu actores.
Que legado deixarão, provavelmente? Nenhum que não possa ser demolido pelo próximo executivo, mas enquanto durar o espectáculo, Frederico continuará a brilhar, não como líder, mas como um excelente reflexo de tudo o que a política local pode ser quando se esquece da política e se foca só no local, o local da foto ou vídeo, o local da pose ou o local do faz-de-conta.
E assim, segue o Barreiro, para mais umas autárquicas, entre selfies e assessores, vídeos, anúncios e arranjos cosméticos, preso num triste espectáculo que se repete há anos. Só nos resta aplaudir, ou rir, ou até mesmo chorar.
Ou, como bons barreirenses, fazer tudo ao mesmo tempo.
Bravos, senhor presidente. Bravos.