A vitória da política de propaganda no Barreiro
A política no Barreiro, resume-se ao apregoar de obra, com investimentos e dinheiro dos outros. Do orçamento camarário, nem vê-lo. É uma gestão que valoriza apenas investimentos externos, enquanto o orçamento municipal fica em segundo plano, e não se vê reflectido no terreno, sugere uma dependência excessiva de fundos de entidades externas (Estado, UE, privados) sem um compromisso real de alocar recursos próprios para o desenvolvimento local.
Se a autarquia não canaliza verbas próprias para projectos essenciais, a questão que se coloca é, para onde está a ir o dinheiro do orçamento? A transparência na execução orçamental e a definição de prioridades de investimento são essenciais para evitar que a gestão se reduza apenas à propaganda.
Sem transparência na execução orçamental, a população não tem como saber para onde realmente vai o dinheiro dos impostos. E sem uma definição clara de prioridades, corre-se o risco de investimentos desnecessários enquanto áreas fundamentais, como infraestruturas, habitação, emprego, saúde e educação, ficam em segundo plano.
No caso do Barreiro, seria interessante haver um movimento que exigisse prestação de contas regular e divulgasse de forma acessível como a autarquia gasta os seus recursos. Algo como um portal independente de fiscalização, relatórios simplificados ou até ações públicas para pressionar mais clareza nas decisões financeiras. Infelizmente, é um problema recorrente em muitas autarquias, onde a gestão parece ser mais um exercício de marketing do que de verdadeira administração pública.
Se a propaganda for a principal ferramenta de governação, fica sempre a dúvida sobre a real eficácia dos investimentos. O Barreiro tem potencial, mas se a autarquia não canaliza recursos próprios para obras estruturais e serviços essenciais, corre-se o risco de estagnação, e uma dependência de terceiros. Daí, uma pergunta que nos persegue constantemente, sobre a real eficácia da oposição, se é que existe: denunciam essa estratégia e apresentam alternativas concretas? Infelizmente, a única resposta que temos, é a de que a oposição só aparece em véspera de eleições. Esse tipo de oposição enfraquece qualquer possibilidade de verdadeira mudança e descredibiliza-se perante os cidadãos.
Se a oposição só se mobilizar em período eleitoral, acaba por reforçar o domínio da actual gestão e perpetuar o ciclo de propaganda sem ação concreta. Uma oposição forte precisa de presença constante, fiscalização activa e propostas sólidas. Sem isso, a população acaba por sentir que não há alternativas reais. Em suma, para que se possa contrariar essa apatia, para que se possa ocupar esse espaço e fazer um trabalho mais consistente, seria necessário o aparecimento de algum movimento cívico ou independente no Barreiro, como aconteceu, na Madeira.
O Juntos Pelo Povo (JPP) tem uma abordagem interessante, porque surgiu como um movimento independente na Madeira, rompendo com o tradicional domínio dos grandes partidos. No continente, poderia ser uma alternativa viável, especialmente em autarquias onde a oposição tradicional é fraca ou inexistente, como acontece no Barreiro. A grande vantagem de um projecto como o JPP, é a proximidade com os cidadãos e a independência dos jogos partidários clássicos.
No Barreiro, se houvesse uma estrutura semelhante, focada na fiscalização constante e na apresentação de soluções concretas, poderia atrair aqueles que estão descontentes com a atual gestão e não se identificam com os partidos tradicionais. Para construir algo assim localmente, teriam que existir pessoas e vontades disponíveis e descomprometidas com a velha e caduca identidade dos partidos convencionais, os quais se transformaram em autênticos centros de emprego, para gente sem referências nem história de vida.
No entanto, penso que essa possibilidade, apenas seria viável, se apoiada por um qualquer órgão de comunicação local independente, que não existe. Ter um órgão de comunicação local que viabilizasse a visibilidade de um movimento de oposição, seria um grande impulso. A comunicação é essencial para quebrar a bolha da propaganda oficial dos partidos e inexistente em movimentos cívicos, para levar um discurso alternativo à população.
Talvez o primeiro passo fosse começar com uma plataforma digital, por exemplo um site, redes sociais ou até um jornal digital independente, para divulgar casos concretos de má gestão, fiscalizar o orçamento camarário e apresentar propostas realistas. Com o tempo, isso poderia atrair mais apoio e até despertar o interesse de outros meios de comunicação locais. Fica a ideia. Pode ser que alguém se entusiame.