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Barrabás - o Barba Azul

Barrabás - o Barba Azul

A vitória da política de propaganda no Barreiro

Barba Azul, 27.03.25

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A política no Barreiro, resume-se ao apregoar de obra, com investimentos e dinheiro dos outros. Do orçamento camarário, nem vê-lo. É uma gestão que valoriza apenas investimentos externos, enquanto o orçamento municipal fica em segundo plano, e não se vê reflectido no terreno, sugere uma dependência excessiva de fundos de entidades externas (Estado, UE, privados) sem um compromisso real de alocar recursos próprios para o desenvolvimento local.

Se a autarquia não canaliza verbas próprias para projectos essenciais, a questão que se coloca é, para onde está a ir o dinheiro do orçamento? A transparência na execução orçamental e a definição de prioridades de investimento são essenciais para evitar que a gestão se reduza apenas à propaganda.

Sem transparência na execução orçamental, a população não tem como saber para onde realmente vai o dinheiro dos impostos. E sem uma definição clara de prioridades, corre-se o risco de investimentos desnecessários enquanto áreas fundamentais, como infraestruturas, habitação, emprego, saúde e educação, ficam em segundo plano.

No caso do Barreiro, seria interessante haver um movimento que exigisse prestação de contas regular e divulgasse de forma acessível como a autarquia gasta os seus recursos. Algo como um portal independente de fiscalização, relatórios simplificados ou até ações públicas para pressionar mais clareza nas decisões financeiras. Infelizmente, é um problema recorrente em muitas autarquias, onde a gestão parece ser mais um exercício de marketing do que de verdadeira administração pública.

Se a propaganda for a principal ferramenta de governação, fica sempre a dúvida sobre a real eficácia dos investimentos. O Barreiro tem potencial, mas se a autarquia não canaliza recursos próprios para obras estruturais e serviços essenciais, corre-se o risco de estagnação, e uma dependência de terceiros. Daí, uma pergunta que nos persegue constantemente, sobre a real eficácia da oposição, se é que existe: denunciam essa estratégia e apresentam alternativas concretas? Infelizmente, a única resposta que temos, é a de que a oposição só aparece em véspera de eleições. Esse tipo de oposição enfraquece qualquer possibilidade de verdadeira mudança e descredibiliza-se perante os cidadãos.

Se a oposição só se mobilizar em período eleitoral, acaba por reforçar o domínio da actual gestão e perpetuar o ciclo de propaganda sem ação concreta. Uma oposição forte precisa de presença constante, fiscalização activa e propostas sólidas. Sem isso, a população acaba por sentir que não há alternativas reais. Em suma, para que se possa contrariar essa apatia, para que se possa ocupar esse espaço e fazer um trabalho mais consistente, seria necessário o aparecimento de algum movimento cívico ou independente no Barreiro, como aconteceu, na Madeira.

O Juntos Pelo Povo (JPP) tem uma abordagem interessante, porque surgiu como um movimento independente na Madeira, rompendo com o tradicional domínio dos grandes partidos. No continente, poderia ser uma alternativa viável, especialmente em autarquias onde a oposição tradicional é fraca ou inexistente, como acontece no Barreiro. A grande vantagem de um projecto como o JPP, é a proximidade com os cidadãos e a independência dos jogos partidários clássicos.

No Barreiro, se houvesse uma estrutura semelhante, focada na fiscalização constante e na apresentação de soluções concretas, poderia atrair aqueles que estão descontentes com a atual gestão e não se identificam com os partidos tradicionais. Para construir algo assim localmente, teriam que existir pessoas e vontades disponíveis e descomprometidas com a velha e caduca identidade dos partidos convencionais, os quais se transformaram em autênticos centros de emprego, para gente sem referências nem história de vida.

No entanto, penso que essa possibilidade, apenas seria viável, se apoiada por um qualquer órgão de comunicação local independente, que não existe. Ter um órgão de comunicação local que viabilizasse a visibilidade de um movimento de oposição, seria um grande impulso. A comunicação é essencial para quebrar a bolha da propaganda oficial dos partidos e inexistente em movimentos cívicos, para levar um discurso alternativo à população.

Talvez o primeiro passo fosse começar com uma plataforma digital, por exemplo um site, redes sociais ou até um jornal digital independente, para divulgar casos concretos de má gestão, fiscalizar o orçamento camarário e apresentar propostas realistas. Com o tempo, isso poderia atrair mais apoio e até despertar o interesse de outros meios de comunicação locais. Fica a ideia. Pode ser que alguém se entusiame.

Bonequinhas

Barba Azul, 24.03.25

A política local no Barreiro, assim como em tantas outras partes do país, segue um curso previsível, nos dias que correm. A escolha de representantes parece mais uma questão de encaixar peças no tabuleiro político do que para garantir que as pessoas certas assumam responsabilidades. É um jogo em que as vereadoras, no caso específico para cumprir quotas, desempenham o papel de bonequinhas decorativas, figurantes de uma cena que, na melhor das hipóteses, encanta pela aparência, mas falha miseravelmente no conteúdo.

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O problema não é a falta de mulheres competentes para a função, mas, infelizmente, as escolhas feitas para os cargos públicos são tão distantes da realidade da competência e da experiência que se tornam quase irrelevantes. Porque será que isso acontece? Talvez porque, na política, ser decorativo seja o menor dos problemas. Talvez seja mais importante, na prática, manter um status quo que permita manobras de poder e alianças de conveniência do que realmente escolher pessoas que possam transformar a cidade de maneira tangível. E, se a cidade continuar a ser representada por aqueles que não têm sequer uma prova dada em suas vidas pessoais para assumir cargos de responsabilidade, não será surpresa se continuarmos a assistir a um espectáculo político vazio de propósitos. Claro, não é uma questão de género.

O problema não reside no facto de serem mulheres, mas na falta de substância nas suas trajectórias profissionais, nas suas ideias e, sobretudo, na ausência de uma real preparação para lidar com as complexidades do cargo. A política, em última instância, deveria preocupar-se com a competência, sobre a capacidade de inovar, de liderar e de representar verdadeiramente os interesses da população. Não deveria ser um espaço para quem simplesmente pode fazer ou passar-se por bonito, ou simplesmente para segurar a vela nas fotos oficiais.

Deveríamos, de facto, ser muito mais exigentes. Mais do que promessas vazias e discursos genéricos, mais do que simples ocupantes de cadeiras, deveríamos demandar pessoas com provas dadas, seja na carreira, seja no seu impacto na comunidade. Mas, claro, isso nunca acontecerá enquanto a escolha dos candidatos continuar a ser feita com base no interesse político e na manutenção do poder. Porque a verdade é que, para muitos, a competência e a experiência não são qualificações prioritárias. São, ao contrário, obstáculos num jogo que preza muito mais pelas convenções partidárias do que pela busca de soluções reais e efectivas para os problemas locais.

Se houvesse algum tipo de critério rigoroso na escolha de candidatos, talvez houvesse mais transparência, mais justiça e, quem sabe, mais competência. Mas isso é, claro, algo que os partidos preferem adiar. Afinal, para quê complicar, a política local, com suas vereadoras e vereadores sem brilho, segue a sua marcha, mantendo a estrutura intacta, os cargos garantidos e a população à espera de alguma mudança que, a cada eleição, parece mais distante, para não dizer inacessível. Poderá isso alguma vez mudar?Talvez, se o eleitorado começar a exigir mais. Talvez, se as escolhas partidárias passarem a ser feitas não apenas com base em quem está dentro do círculo, mas com base em quem realmente tem algo a oferecer. Até lá, continuaremos com as bonequinhas, figurantes na grande peça chamada "governo local".

 

O espelho dourado

Barba Azul, 24.03.25

 

O espelho dourado do executivo, em oito anos de autopromoção paga pelos contribuintes.

No Barreiro, a prioridade é clara: tapar buracos com milhões… mas só os da fachada. Obras faraónicas, inaugurações com pompa, e muitos sorrisos para a câmara, a de filmar, claro, porque a camarária só serve para aprovar o cheque. Enquanto isso, os problemas reais vão-se resolvendo sozinhos… ou não. Mas não faz mal, desde que brilhe nas redes e dê para cortar a fita, está tudo a andar.

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Gestão séria? Isso não rende likes. Há oito anos, Frederico Rosa, Rui Braga & Companhia, iniciaram a sua caminhada à frente da Câmara Municipal do Barreiro. O discurso era de renovação, proximidade e responsabilidade. Mas, na prática, a proximidade parece ter-se resumido a outdoors em cada esquina, campanhas digitais milionárias, vídeos institucionais polidos e boletins camarários onde o elogio se escreve em corpo 48, e os problemas em rodapé.

As contas públicas, essas, vão sustentando um esforço publicitário que nem as grandes marcas se atreveriam a manter. A cada inauguração de rotunda ou pintura de passadeira, uma produção audiovisual. A cada decisão administrativa corriqueira, um clipping de imprensa pago. Os munícipes têm o privilégio de serem informados, ou melhor, persuadidos, de que tudo corre sobre rodas, ainda que essas rodas, muitas vezes, sejam as de um carro oficial que atravessa buracos nunca tapados.

Questiona-se quanto custa esta estratégia de maquilhagem institucional. Os relatórios orçamentais revelam valores avultados em promoção da atividade municipal e comunicação institucional, sem discriminação clara entre o que é serviço público de informação e o que é puro marketing político. A fronteira é ténue. O bolso do contribuinte, no entanto, é muito real. Durante dois mandatos, o executivo Rosa/Braga construiu um mural de anúncios e sorrisos posados, enquanto o Barreiro real continua a clamar por investimentos menos fotogénicos, mas estruturalmente mais importantes. Os custos não são apenas financeiros, são políticos, éticos e sociais.

Em vez de publicidade à obra, talvez fosse tempo de dar prioridade à obra sem publicidade. Se há algo que o executivo Rosa/Braga percebeu cedo, foi o valor de uma obra... fotogénica. Ao longo de oito anos, o Barreiro foi palco de inaugurações de praças remodeladas, rotundas ornamentadas, ciclovias pintadas com grande aparato e passadeiras coloridas, tudo aquilo que cabe numa fotografia sorridente e pode ser partilhado com filtros no Facebook institucional. Porém, aquilo que não se vê, não existe. Ou, pelo menos, não serve para um post patrocinado. Infraestruturas críticas, como redes de saneamento modernizadas, melhorias no abastecimento de água, substituição de condutas antigas ou intervenção estrutural nos sistemas subterrâneos, foram sistematicamente relegadas para segundo plano. Talvez porque não rendem likes. Talvez porque não servem para o corta fitas.

As consequências começam a sentir-se. As inundações sazonais, as rupturas constantes e os sistemas envelhecidos, são o reflexo de anos de prioridades invertidas. Em vez de investir onde é preciso, investiu-se onde é visível. Em vez de garantir um futuro robusto para o município, garantiu-se apenas um feed de redes sociais sempre animado. Mas o mais irónico é que, enquanto os contribuintes eram convidados a contemplar a nova calçada artística e de valor patrimonial, substituída por pisos de cimento impermeável, ou o banco urbano intragável, por baixo dos pés deles corria um sistema velho, negligenciado, prestes a rebentar.

Um resumo cruel do mandato, bonito por fora, frágil por dentro. Quando a espuma do marketing baixar, e um dia, baixa mesmo, deixará inevitavelmente à vista a triste realidade da desgovernança. Será então que o Barreiro perceberá que não basta pintar a fachada, se os alicerces estiverem podres. Mas, por enquanto, a prioridade do executivo parece clara, se não aparece na fotografia, não merece orçamento. No fim, a avaliação e conclusão que retiramos, destes 8 anos é, que afinal, o brilho do município não devia vir apenas do verniz mediático, mas sim, do betão sólido da governação.